Vindima auto-sustentável 2012 – Com energia solar
Realizou-se a 22 de Setembro a vindima, na aldeia de Fonte de Dom João, freguesia da Junceira. Nestas quinta, há cerca de um ano em recuperação, não se fazia vinho há mais de 20 anos. À semelhança da apanha da azeitona o ano passado, esta vindima contou exclusivamente com mão de obra voluntária.
A auto-sustentabilidade apenas se consegue com o esforço próprio. As trocas, sejam de bens ou de mão de obra (tempo), são uma forma atual de sustentabilidade, fora da dita economia corrente, permitindo conseguir pessoas mais felizes e resilientes.
Nesta quinta, a auto-sustentabilidade é também energética. Quero eu dizer que a produção de energia elétrica é exclusivamente de fontes renováveis, nomeadamente solar mediante painéis solares fotovoltaicos. Além da parte habitacional, também a adega e a máquina de esmagar uvas funcionaram com energia elétrica produzida pelo sol. Esta energia grátis faz parte do nosso plano de auto-sustentabilidade.
Também o almoço, servido na vinha, na Hortinha da Junceira, contou com um forno solar e assim sem gastar outra energia que não sejam os raios solares.
Um dos voluntários, Sérgio Graça das Olalhas, deslocou-se durante a vindima numa moto elétrica, cujas baterias foram carregadas com energia produzida pelos painéis fotovoltaicos.
Para coordenar os trabalhos contámos com a ajuda imprescindível de Horácio Antunes e Joaquim Monteiro. A sabedoria de ambos em matéria de vindima vai-se materializar em 450 litros de vinho tinto. Vamos esperar para ver.
A ajuda veio também de Lisboa e Benavente, gente nova e menos nova, uns experientes outros pela primeira vez, enfim, um pouco de tudo.
Participaram também cinco pessoas da associação Futuragora – Associação para a economia baseada nos recursos. www.futuragora.pt
Aos participantes oferecemos alojamento e alimentação. O resultado da vindima será distribuído de acordo com a participação de cada um.
Neste fim de semana realizou-se também a festa da Fonte de Dom João. Esta festa é sempre muito concorrida por ser a última da região. No Sábado a festa estava no auge. A música prometia continuar pela noite fora, a animação estava imparável. Tudo corria bem até que às 3 da manhã a chuva apareceu e trouxe a trovoada. Isso são seria suficiente para prejudica a festa mas eis que subitamente faltou a luz. Apenas o palco tinha eletricidade de um gerador. Tudo o resto ficou às escura. Nem casas nem iluminação pública. Até onde a vista alcançava, tudo estava negro. O tempo passava e a luz teimava em não voltar. Chovia e as pessoas abrigavam-se como podiam. Os telemóveis não funcionaram e as pessoas procuravam encontrar os seus familiares e amigos. Infelizmente a festa tinha acabado. Apenas os faróis dos carros iluminavam o caminho.
É claro que se ouviam vozes “mas aqui há luz, esta casa tem luz”. E assim foi, com as luzes exteriores acesas lá tentámos que pelo menos a rua não ficasse completamente às escuras. Também no cimo do monte, na quinta do “Manel d’Avó” onde estavam abrigados os participantes da Futuragora, havia luz. Também esta de um sistema fotovoltaico que alimenta o sistema de rega e iluminação. Colocaram no exterior um holofote para que os carros pudessem ter melhor visibilidade.
Uma vez que os telemóveis não funcionavam, a comunicação fez-se por meio de Walkie-talkies PMR, que nos asseguram as comunicações de curta distância. Este é mais um hábito de auto-sustentabilidade, pois em caso de emergência não é possível confiar nos meios de comunicação externos.
Este incidente, com todos os transtornos e prejuízos que acarretou, vem alertar para a necessidade da auto-sustentabilidade. A dependência, seja ela de que ordem for, é sempre um perigo. Tanto o aumento da eletricidade que se continuará a fazer sentir, como a possibilidade de falta de energia elétrica, fazem-nos pensar se afinal não existirão outras soluções, que nos deixem mais independentes, felizes e sem pagar contas da luz.
A casa de Tomar tem servido de demonstração no que diz respeito a soluções solares fotovoltaicas, provando que é possível viver sem energia da rede. Quem sabe se a aldeia da Fonte de Dom João poderá também ser lembrada com tendo iniciado um ciclo de casas auto-sustentáveis? O mesmo pode ser utilizado em regas, armazéns, empresas e escolas.
Este é o meu projeto atual, na CCBS Energia (www.ccbs-energia.pt), uma empresa de energias renováveis, com escritório em Lisboa e quem sabe brevemente em Tomar (ou na Fonte de Dom João).
As fotos podem estão num arquivo para download em https://dl.dropbox.com/u/4013459/Vindima2012.zip
Apenas procurei relatar factos, cabendo a si a escolha do que deve ser publicado e a melhor forma de o fazer. Não referi o facto do meu avô ser o comendador Augusto dos Santos uma vez que essa informação já tinha sido dita o ano passado. No entanto pode utilizar essa informação se tal for relevante para enquadrar ou dar sentido ao texto.
A meu ver a importância deste artigo é por um lado a tentativa de retorno a terra (auto-sustentabilidade alimentar) e a produção de energia elétrica e aquecimento (auto-sustentabilidade energética). Mais do que uma vindima, são aqui abordados temas que certamente farão sentido na cabeça de muitas pessoas.
Foi uma experiência muito boa. Obrigado.
Também gostei. Falta provar a pomada!